A Biblia Segundo Beliel
O Livro A Biblia Segundo Beliel , trata de ; Um anjo desgarrado decide reunir narrativas bíblicas perdidas. Mas os narradores são, na maioria, como ele: desgarrados. São os coadjuvantes da história, como a pomba que Noé soltou da arca para ver se as águas do dilúvio tinham baixado; ou o demônio Misgodeu, que trabalha como porteiro do Inferno, um faz-tudo que toca os mecanismos daquele fim de mundo, sem o qual nada funciona no reino de Lúcifer; ou ainda o escravo de Jó, que assiste, completamente surpreso, à desgraça e às tentações de seu amo.Há relatos sobre a luxúria e a hecatombe de Sodoma e Gomorra contados por um dos anjos enviados para averiguar o que por lá se passava (e como se passavam coisas!). Assim como fala do passado, a narrativa de Beliel se dirige ao futuro, nos levando a uma versão absolutamente fantástica do fim dos tempos e do destino da Criação.A Bíblia segundo Beliel glosa as teorias e previsões sobre a proximidade do fim do mundo, como acontece no Apocalipse de São João Evangelista, só que com alguns detalhes que São João não previu nem talvez pudesse prever. Afinal, o autor leva uma vantagem: está quase dois mil anos mais perto do fim do mundo do que ele estava. No livro, Flávio traça não apenas as previsões de origem religiosa, mas também aquelas de natureza científica ou histórica. Sua geração cresceu sob o temor de que a Guerra Fria – depois das hecatombes da Segunda e da Primeira Guerra Mundial – os levasse diretamente ao fim do mundo. O risco de uma catástrofe atômica diminuiu, mas não está descartado. Agora, se fala também no aquecimento global, no efeito estufa, e vive-se em meio a furacões tropicais que invadem as regiões mais temperadas. A Bíblia segundo Beliel, portanto, é um livro perfeitamente realista: uma leitura do nosso tempo.Em tom de paródia, mas solidamente ancorada nas tradições bíblicas – que Flávio Aguiar, pesquisador e professor de literatura da USP, conhece como poucos -, A Bíblia segundo Beliel combina a leveza da chanchada com reflexões profundas e ousadas sobre temas como a religião, o fanatismo, a crença e a descrença, a opressão e a liberdade, a desigualdade e a justiça e, last but not least, o amor, como objetivo e possibilidade de nção da humanidade.Sobre o surgimento do livro, o escritor é enfático: ‘Foi uma possessão. Passei muitos anos estudando as Bíblias como fontes literárias e das demais artes. Mais da metade das literaturas e das artes que estudamos e curtimos são incompreensíveis sem um conhecimento mínimo das diversas Bíblias. Até um autor declaradamente ateu, como Machado de Assis, é profundamente bíblico. Acho que de repente isso se materializou numa reescritura do que eu lera e me inspirara na minha vida de professor e crítico literário. Como se todo esse mundo acumulado pegasse um desvio da linha e saísse em busca de um caminho próprio. Por isso não consigo dizer, por exemplo, que o livro é meu. Ele é mesmo do Beliel, esse anjo torto que se materializou em mim. Eu fui apenas seu porta-voz’.
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