Xingu: Contatos
O livro Xingu: Contatos , trata de ; Em 264 páginas, o catálogo contém cerca de 200 imagens, incluindo as que foram produzidas por artistas indígenas especialmente para a mostra inaugurada no IMS Paulista em novembro de 2022. A publicação traz entrevistas com as lideranças indígenas Ailton Krenak e Watatakalu Yawalapiti, textos da pesquisadora Naine Terena, do antropólogo Carlos Fausto e dos curadores da exposição, Tukumã Kuikuro e Guilherme Freitas, além de uma cronologia sobre território do Xingu.O texto de Naine Terena apresenta uma reflexão sobre como as comunidades indígenas têm se apropriado das ferramentas tecnológicas para criar suas próprias representações. “Ainda enfrentamos o estigma dos indígenas que têm acesso às tecnologias: ‘Índio com smartphone não é mais índio’, dizem aqueles que tentam desconstruir lutas e identidades, fazendo com que a sociedade de maneira geral não reconheça indígenas que dominam suas “mídias nativas” como indígenas, mas sim como pessoas que já migraram para um campo “civilizado”. Nesse campo político é que o audiovisual ganha espaço, justamente para expressar o contrário: ao dominar os aparatos tecnológicos, as culturas indígenas se mantêm e se afirmam pelo próprio movimento de produção audiovisual”, afirma a pesquisadora.Em diálogo, o artigo de Carlos Fausto, professor do Museu Nacional, traz sua experiência com os Kuikuro, entre 2002 e 2011, em oficinas e projetos de cinema nas aldeias. A partir do relato de seu contato com as lideranças e alunos, Fausto reflete sobre temas como autoria e preservação das tradições. “O que a câmera permite e o que ela interdita? Em que termos devemos pensar o trânsito entre os mundos indígenas e não indígenas viabilizado (ou não) pela câmera? Indígena e não indígena não seriam, ademais, categorias grandes demais, que simplificam distinções bem mais complexas entre diferentes culturas indígenas e mesmo entre singularidades individuais”, escreve.O catálogo registra também o depoimento de Watatakalu Yawalapiti, liderança feminina do Alto Xingu, e coordenadora-geral da ATIX Mulher, braço do movimento de mulheres na Associação Terra Indígena do Xingu. Yawalapiti, que é consultora da exposição, fala sobre a sua luta e de suas companheiras para participar das decisões nas aldeias. “Muita gente fala das “feministas xinguanas”. Não sei se entendo muito bem essa palavra ainda. Mas penso que, quando a gente fala de direitos da mulher, a gente está falando de igualdade”, afirma.Em depoimento, Ailton Krenak defende que a demarcação do território do Xingu em 1951 foi uma vitória e demonstração de força das lideranças xinguanas, que souberam articular as negociações e a diplomacia com o governo. O escritor também reforça a importância do território como marco e inspiração para novas lutas: “As campanhas que não cessaram desde então para a demarcação das terras indígenas se inspiram grandemente no fato de existir o Parque Indígena do Xingu. É como se nós disséssemos: ‘Não pode ser menos do que isso’”.Takumã Kuikuro escreve sobre a apropriação da linguagem cinematográfica pelos povos originários: “Somos donos da nossa imagem e levamos as lutas dos povos do Xingu para museus, festivais, cinemas, redes sociais e exposições”. Guilherme Freitas, por sua vez, narra o processo de requalificação dos acervos do IMS, feito com a colaboração de pesquisadores e lideranças indígenas, por meio da identificação de pessoas, locais e situações retratadas nas imagens.
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