Donos Do Mercado
O Livro trata de, Como as s de supermercados cresceram tanto? Carrefour e Pão de Açúcar formam um duopólio? Como o Estado permitiu que isso acontecesse? Que impactos esse gigantismo traz para os consumidores e fornecedores? E para os quase 200 mil funcionários das duas maiores s? Essas e outras perguntas ecoaram em nossas cabeças por meses. As respostas estão neste livro-reportagem, que destrincha as estratégias que fizeram dos grupos franceses os donos do mercado. E mostra que o preço mais alto não está nas prateleiras. *** Nosso gesto de consumo mais banal. Mais automático. Mais repetido e repetitivo. Mais impensado. E, no entanto, um dos gestos que mais tem implicações para nós e nossos corpos. Para nossas cidades. Para nosso planeta. Os supermercados, em especial aqueles posicionados em áreas de classes média e alta, são a linha tênue entre o absolutamente chato e o perfeitamente eficiente. Um espaço onde não se está. Um não problema. Um lugar no qual entramos, nos servimos do que precisamos e seguimos a vida. Seguramente é assim que as corporações do setor querem ser vistas. Carrefour e Pão de Açúcar não pretendem rastejar pelo nosso afeto. Basta que não as odiemos. Ao longo de um ano, os repórteres Victor Matioli e João Peres vasculharam cada prateleira em busca de respostas. E, principalmente, foram além do que está exposto para venda. A investigação parte de uma pergunta simples: qual a fatia de mercado controlada por Pão de Açúcar e Carrefour? A partir disso, revela-se uma teia complexa de estratégias diversas e entrelaçadas que fizeram e fazem das duas corporações francesas as donas do varejo alimentar brasileiro. O supermercado é a vitrine principal de um paradigma de desenvolvimento que fracassou profundamente. Sete décadas depois de lançada a ideia de progresso infinito e inevitável, estamos mais pobres e mais desiguais. O planeta está esgotado. O desalento dá o tom de nossa década. Há contestações ao agronegócio, às indústrias química, farmacêutica, alimentícia, automobilística, têxtil, de tecnologia, a praticamente qualquer corporação do planeta. E, no entanto, os supermercados seguem desfrutando de nossa boa vontade. Da banalidade absoluta do ato de consumo mais corriqueiro. Ao longo da investigação, o sofrimento se revela como regra, e não como exceção. Trabalhadores que recebem o mínimo e são descartados às dezenas de milhares todos os anos. Um Judiciário abarrotado de processos por violações, assédio, doenças laborais. Os autores descobrem um sem-fim de condições impostas pelas s aos fornecedores, que, mesmo milionários ou bilionários, parecem sempre frágeis diante do tamanho dos supermercadistas. Um modelo de negócios que exclui os pequenos agricultores, cada vez mais em apuros. E que exclui a diversidade para transformar a todos em consumidores pasteurizados. Nesse lugar de gente infeliz, o Estado peca duplamente. Ora pela inação: foram as vistas grossas do órgão de controle da concorrência que permitiram que a concentração aumentasse fortemente nas últimas três décadas. Ora pelas atitudes em favor do poderio das duas s: os recursos do BNDES foram absorvidos quase na totalidade pelas duas s. Ora pela anuência a uma série de artifícios utilizados para evitar o recolhimento de tributos. Créditos cobrados por empresas-fantasma, esquemas de exportação fictícia, remessas a paraísos fiscais: nada disso encontra punição à altura pelos mecanismos federais e estaduais de controle tributário e fiscal. Mas não há um grande volume de reflexões sobre o papel dos supermercados nessa operação. É ali, entre gôndolas e códigos de barra, que a história se perde. A história do alimento. A nossa história. Donos do mercado é um trabalho imprescindível para quem quer enxergar além das prateleiras.
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