Entrelacamentos E Urbanidades – Poetica E Politica
O Livro Entrelacamentos E Urbanidades – Poetica E Politica , trata de ; o novo livro de Sil Schmidt, situa a poesia para além de um território atual, não apenas perante a visão que se estabelece no terreno estético, mas como ela mesma define “diante de um momento crítico da história na terra”, sob o signo do futuro. E esse devir político que tanto preocupa a todas e todos nós, a partir de um tempo que ora constrói e ora destrói realidades, é como já disse o filósofo, o do animal falante enquanto animal político. E aí é preciso cultivar a animalidade dos signos, dos movimentos, salto e voo para as profundezas da escrita como em Autorretrato: Aninhada como um pássaro rosa e cinza/ uma fragilidade – parede que cristaliza/ sua tristeza entre tantas cenas coloridas/ forte por dentro pura mentira/ um quase ninho-vazio/ não por falta mas pela matriz/ a forma energia que a molda/ em tantos negativos/ autorretrato do inatingível. O animal extremo, ninho-vazio-energia-matriz. O corpo do pássaro, moldado pelo tempo da escrita feminina, cuja matriz, como na partilha do sensível, “como obras ou performances ‘fazem política’, qualquer que sejam as intenções que as regem”[ver Rancière].Porque mesmo com a Carta da Terra, cujo texto inspira Sil Schmidt, sabemos que não há garantias, sabemos que o momento crítico requer que esse corpo animal suavize as arestas e reescreva o poema mil vezes para que não esqueçam essa politicidade sensível que em apenas um verso nos garantirá a sobrevivência. Mesmo com as bombas químicas soterrando nossos olhos-mentes sem um adeus- até breve/ leves pombas chamuscadas em pele evanescida– assassinadas- uma vida prêmio/ não saberemos os suspeitos estes seres de dinheiro sem nome-capital apenas/, há um verso como uma nova forma de vida, uma asa bordada na tapeçaria de uma vitrine perdida, em cuja vidraça veremos a andorinha prestes a saltar de nossa memória e voar o voo desse futuro pelo qual tanto almeja Sil Schmidt. E é “o feito do poema”, a liberdade de ação que ela, a poesia, empresta ao mundo, sua voz inequívoca, vocal, mesmo em silêncio, o princípio, a reza que benze e cura: Reconheço sob minha pele fina suas cicatrizes-costura em corpo-texto/ As navalhas o estilete agulhas e bisturi feitos riscos de giz sobre mim/ A presa- resquícios de vida traçados- como lei permissiva–sem doulas/. Cicatriz é memória, lembrança do corpo, marca de sua linguagem. [da nave-mãe e filigranas montanhas curva fechada&praia]. Da relação entre o novo e o antigo, desse lembrar-tempo- cicatriz, é quem sabe de onde emergirá com força essa carta poema à terra, esse desejo que aqui, entrelaçado poética e politicamente, como deseja esse livro, como escreve Sil Schmidt, desate enfim os laços e o animal acorde a paz.Jussara SalazarPoeta e artista visual. Mestra em estudos literários[ufpr], e doutora em comunicação e semiótica [puc/sp]***alguém ao leu fala pergunta ao céu se continuará a usar suas joias caras sob clausura&desmesura tempos de ignomínia na rua fios de cobre avisam o panegírico noites e dias horas imensas expandidas interrogo-me será possível o diálogo com quem saliva por carnes do pasto faz árvores abatidas para o gado pisar meu olhar severo e unhas agudas apontam o tempo da carnificina famintos se reúnem em bancos nas esquinas das urbes tantos noites expandidas insones a destruir sonhos vejo meus tombos pela janela do bonde por onde navegam equânimes similares a contos ou passarela de vítimas mortas como planos plateia com panos respiratórios protegendo a boca a narina o queixo do ar atmosférico***
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