Hino Aos Doidos De Oaio
O Livro Hino Aos Doidos De Oaio , trata de ; Paulo Ribeiro – que neste ano comemora 30 anos de sua estreia na literatura – é um criador de mundos. Já (re)conhecido pela série de obras ambientadas na cidade de Bom Jesus (a querida “Bonja”), situada nos Campos de Cima da Serra Gaúcha, o autor de Vitrola dos ausentes envereda agora na criação de outros mundos ficcionais/fictícios. É o caso, aqui neste romance, de Oaio do Sul, um espaço que se localiza em algum ponto do mapa ao Sul do Brasil. Em Oaio do Sul, figuras da vida real, como Teixerinha, Roosevelt, João XXIII, Gregg Toland, Orson Welles, Nelson Rockefeller, Castelo Branco, Eugene O’Neill, Plínio Salgado, Leonardo da Vinci, William Randlph Hearst e Henry Fonda misturam-se à vida de personagens como Matilde, padre Affonso Hartmann, Gerítzia, Huga Drecker, o Seu Gote, Dona Eleonor, Seu Honorino Arcari, Dona Elyria, Dona Urbana, Dona Kalida, Marion, Titto Scripa, Dona Filomena, irmã Branca, Maria João, Assis Pacheco, Hudson, Obetz e Seu Bombacha Azul (*1910+1976). Como em outras obras de Ribeiro, impressiona a quantidade de nomes que emerge neste romance, seja como personagens, seja como referências ao momento histórico-cultural de Oaio do Sul. Hino aos Doidos de Oaio problematiza o processo de norte-americanização da cultura brasileira, intensificada com a política da boa vizinhança implementada por Franklin Roosevelt, nos anos 1930-1940, entre os Estados Unidos e algumas nações latino-americanas: “Quando chegaram, foi em 1959? Chegaram como? Em levas, em duplas, chegou algum infeliz solitário? Chegou algum solitário de Ohio da América para vir para o Fundo das Almas criar pintos?”. Mas o romance avança para além do Brasil dessas décadas, ingressando nos anos 1970-1980 e mostrando outros desdobramentos culturais. Como se lê em Hino aos Doidos de Oaio, “mais quantas vezes o Seu Bombacha beberia e pediria para o Obetz colocar o som, a Bohemian Rhapsody do Queen?” É assim que o mundo ficcional do romance aparece marcado pela cultura estadunidense, via cinema, música e outros hábitos culturais. Ohiaenses de Ohio, os imigrantes, precisam se adaptar e conviver com os oaienses de Oaio do Sul: “Marion Obetz não gostava de Oaio. Nem gostava do Sul. Ela viera adolescente ainda para o Brasil, junto com os pais, naquela Boa Vizinhança tardia entre o Juscelino Kubitschek e o governador de Ohio, C. William O’Neill”. E vice-versa com os nativos: “O maldito do Bombacha tinha aprendido a trocar por respeito o ‘Seu’ de senhor lá do fim do mundo por um ‘Mister’ da potência mundial.” Macondo e Antares, para ficar com dois exemplos conhecidos, integram a galeria dos lugares imaginários da ficção latino-americana que despertam a curiosidade dos leitores desde a sua fundação literária, em 1967 e 1971, respectivamente. E é por aí que seguirá a Oaio do Sul, de Paulo Ribeiro, com seus doidos de hino: “Foi um formigueiro de gente na praça de Oaio do Sul na primeira vez que Obetz apareceu de bombacha azul e botas amarelas. E se dizendo bicheiro. E que até criança fazia pergunta difícil: por que é que o Franklin D. Obetz tinha ficado assim?” Se a Ohio de lá significa “Grande Rio”, então a Oaio de cá significa Grande Rio (sem “h”) do Sul? Ou, simplesmente, Rio Grande do Sul? Com a palavra os leitores. Aeiou! João Claudio Arendt
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