Judoca
O Livro trata de, “Eu sou faixa preta 4o dan. Quando você é faixa preta, é para a vida inteira. Mas minha vida me conduziu para outro lugar […]. Os tapetes que eu agora frequento são vermelhos e levam a outros santuários.” É assim que Thierry Frémaux, diretor do Festival de Cannes e do Instituto Lumière, se apresenta, sintetizando sua passagem do esporte à sétima arte e a relação profunda entre ambos, tema deste relato de formação e declaração de amor ao judô. Frémaux passou a infância e a adolescência nas Minguettes, um grande conjunto residencial na periferia de Lyon, hoje foco de pobreza e desemprego, mas que ao ser inaugurado era uma promessa de vida assentada em políticas públicas comunitárias. E foi para lá que seus pais, progressistas, se mudaram na década de 1960, decididos a propiciar aos filhos uma visão de mundo menos consumista “e uma área de lazer à altura de seus desejos, no sonho de um contramundo que eles podiam inventar”. Alternando capítulos que nos oferecem um panorama histórico da França com outros dedicados a relatos pessoais, Frémaux constrói um relicário de sua infância, enriquecido pela história do judô: as origens do esporte, seu mestre fundador Jigoro Kano, a escola Kodokan; golpes e posições de luta; sabedorias ancestrais; os primeiros campeões. Nas palavras de Walter Salles, que assina a orelha da edição, “é todo um viés de olhar o mundo e se relacionar com ele que aflora nestas páginas”, uma vez que “Kano inventou uma arte marcial em que a queda não é uma falha, mas uma tática”. Nesse estudo entusiasmado e instruído da arte marcial, o autor intercala as idas ao dojos à frequência das salas de cinema e, ao alinhavar esporte e arte, desenha a ossatura que sustenta seu relato. “O judô, que entrelaça inevitavelmente uma relação com os outros, sobre a qual repousa a marcha da existência, construiu a pessoa que me tornei. Um homem a quem foi ensinado que a sabedoria chegará depois de todas as coisas.” Ao voltar ao passado, Frémaux reconhece que o esporte que praticou com ardor e diligência, além de conferir cor e contornos ao céu quase sem nuvens de sua infância, lhe forneceu as bases para construir seus gostos, seus valores, sua personalidade e seu futuro. ,
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