Natureza Aberta
O Livro Natureza Aberta , trata de, “A poesia procura nexos entre as coisas, como grãos de poeira que se juntam e formam desenhos no chão, criando novas camadas de imagens nunca vistas. Criam novos mundos que se voltam, com efeito transformador, para o que chamamos mundo real, ou realidade. A palavra é a matéria dessa criação, mas uma matéria frágil e sempre moldável diante do leitor. Ela é elástica em suas possibilidades, ampliando seu campo de sugestões na mente. Evocar essa característica da poesia para falar dos poemas reunidos neste novo livro de Dora Ribeiro, o sétimo em seu itinerário, faz sentido, já que essas imagens provêm, de alguma forma, de seus próprios poemas. “no piso do dia/ a poeira procura/nexos”, escreve Dora, logo na entrada do livro. Trocar “poeira” por “poesia” ajuda a olhar essa poética que se afasta de uma linguagem objetiva, ou denotativa. Dora cria poemas que compõem uma outra forma de ver as coisas, numa abordagem sempre inusitada. É uma espécie de “natureza aberta”, como diz o título, em contraposição à imagem pronta de uma “natureza morta”. Se a natureza morta, como gênero artístico, floresceu durante a ascensão da burguesia e do capitalismo, a partir de todo um quadro de pensamento que moldou a subjetividade e a própria poesia lírica moderna, vivemos hoje na outra ponta dessa história, ou ainda, na sua própria ruína – a ruína que ela mesma engendrou. E como escreve Dora, em sua concisão máxima, “a palavra/sonha/subverter a ruína”. Não à toa são as imagens tradicionais da lírica que comparecem nesse livro, num diálogo subterrâneo, mas sempre subvertidas pela construção plástica da poeta, que as remonta em outras paisagens, mas tencionadas pela experiência coletiva e fragmentada do presente: “E o vazio/ pode ver/ formas novas/ nas mãos/ que respondem/ tranquilas ao que/ ainda não nasceu// ah calamidade// as remudas/ não podem apagar/ nossos olhos”.A referência a um gênero importante da história da arte, subvertido neste livro, é notável ao longo das três partes desta reunião. Além de várias referências artísticas, como Ai Weiwei, Georgia O’Keeffe, ou ainda Tarsila do Amaral e seu “Abaporu”, seus poemas são como “naturezas abertas”, pequenos quadros onde a procura do sentido do “enleado vida&morte”, ou seja, da nossa experiência neste mundo (neste fim de mundo), parece dar o tom de espanto, dor e descobertas. A superfície às vezes calma, às vezes irônica, dos poemas, não esconde o desejo de enfrentar e abraçar a confusão do tempo, quando muitos dos nossos instrumentos de análise falharam e continuam falhando; a poesia, no entanto, em sua exigência máxima, sem recorrer a modismos breves e de fácil assimilação, continua “lutando contra/ existência-de-uma/narrativa-só”, para poder acordar “sem querer// a fruta/ aberta da vida”.”
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