O Delirio Filosofico Do Historiador Salem Zoar
O Livro O Delirio Filosofico Do Historiador Salem Zoar , trata de, A negatividade em filosofia tem longa credencial. Negatividade é um nome chique para crítica, pessimismo, acosmismo (negação de que exista alguma ordem de sentido nas coisas ou de que exista, sim, uma perversa), enfim, para concepções que retiram de nós a esperança. A tragédia grega ática e o niilismo moderno são exemplos sofisticados.Os gnósticos do início da era cristã, o zoroastrismo persa, mais antigo, e o maniqueísmo iraniano – uma forma de cristianismo influenciada pelo pessimismo cosmológico persa, também do início da era cristã – são formas de espiritualidade negativa. Nos três casos, quem criou o mundo foi uma divindade cruel. Agora,temos um gnóstico entre nós, o filósofo Carlos Malferrari, o discreto.O delírio filosófico do historiador Salem Zoar é um exemplo primoroso desse estilo distópico, que guarda semelhança significativa com as cosmogonias gnósticas pessimistas em que o mundo é criação de um demiurgo idiota, orgulhoso e incompetente. Só que nosso filósofo gnóstico paulista narra uma escatologia (o fim do universo) e não uma cosmogonia (origem do universo), de têmpera gnóstica, cujo agente é a estupidez humana. Nós somos os demiurgos. E o universo “desiste” de si mesmo por conta disso.Importante não dar spoiler sobre o curso da narrativa de nosso “herói”, o historiador Salem Zoar. Salem, por si só, já é um nome que nos remete a Jerusalém, às bruxas de Salem ou mesmo a Matusalém – personagem bíblico famoso por viver mais do que o normal entre os homens. Zoar, claramente, nos leva à cabala e a narrativas cosmogônicas típicas dessa espiritualidade judaica antiga. Mas é o delírio, enquanto tal, que nos importa e nos atormenta.O livro de Malferrari é uma crítica à modernidade e sua “causa pelo progresso”, que começa tornando o elétron livre um escravo na corrente elétrica. Sua intuição inicial é cosmológica e só em seguida revela seu vínculo humano. O delírio se abre com a desistência do universo por si mesmo: ele para. Suas partículas “se suicidam”. O movimento, causa profunda do universo ser o que ele é, cessa e daí as consequências que se seguem. O que levaria ao suicídio do ser maior, o universo? Evidentemente, não vou dizer. Mas, entre tantas coisas, uma eu posso contar, para dar um gostinho da força dessa narrativa discreta acerca da vaidade moderna. Num dado momento, antesdo momento final do Ser, a humanidade atinge seu objetivo “científico” maior: imortalidade. Luiz Felipe Pondé
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