Sementes De Poder
O livro Sementes De Poder , trata de ; O agronegócio não se expande apenas pela força. Na base das imensas plantações de soja e milho destinados à exportação radica um complexo sistema de construção de consenso social que faz com que gente rica, pobre e de classe média, empresários, trabalhadores e governantes, homens e mulheres de todas as origens fechem os olhos para os rastros de destruição dessa atividade, preferindo ver apenas seus benefícios econômicos. Neste livro, a socióloga Amalia Leguizamón destrincha os mecanismos que legitimam a sojicultura transgênica e o uso intensivo de agrotóxicos na Argentina, e cria uma fórmula analítica que serve como ponto de partida para entender por que a maioria da população latino-americana apoia o extrativismo.***Amalia Leguizamón escreveu este livro para entender por que os argentinos não se rebelam contra o uso de agrotóxicos em áreas rurais localizadas praticamente no quintal de casa. E conseguiu, depois de percorrer os Pampas e adentrar a realidade das gentes que vivem às voltas com a monocultura de soja transgênica resistente ao glifosato. Desse mergulho no coração agrário de um dos maiores exportadores mundiais de grãos, Amalia voltou com uma preciosa interpretação daquilo que denomina “sinergias do poder”, ou seja, o conjunto de fatores que fazem com que a Argentina abrace efusivamente a sojicultura como modelo de desenvolvimento. Assim, Sementes de poder pode ser um valioso ponto de partida para compreender como e por que o extrativismo dominou a paisagem latino-americana. Como é possível, em tempos de crise climática e crescente desigualdade socioeconômica, criar consensos em torno de atividades que aceleram o colapso ambiental e a concentração de renda? Para responder à pergunta, a autora revisita a fundação nacional argentina e os ideais da chamada Geração de 1837, explicando como a elite da época idealizou o país como “celeiro do mundo”, designou os Pampas para cumprir a missão, varreu os povos indígenas e repovoou o território com imigrantes europeus. Essa raiz branca e excludente perpetuou-se ao longo das décadas, enquanto a Argentina se transformava em potência rural e o imaginário nacional adotava a ideia de que “todos vivemos do campo”. Hoje, esse slogan é repetido como resposta à menor crítica ao agronegócio — e até mesmo aos agrotóxicos. Mas raramente palavras contrárias à soja transgênica são verbalizadas nas regiões produtoras, e, quando a autora as ouviu, vieram apenas da boca de mulheres: algumas cercadas de receio, como as esposas de agricultores que somente protegidas pela intimidade da cozinha ousaram revelar suas preocupações com os efeitos do glifosato sobre a saúde dos filhos; outras corajosa e abertamente, como as Mães de Ituzaingó, que lutam contra o uso de defensivos agrícolas que adoecem e matam a vizinhança. Analisando em detalhes a realidade de pessoas localizadas no que chama de níveis macro, médio e micro da política econômica do extrativismo da soja na Argentina, Leguizamón conseguiu demonstrar as divisões de gênero, raça e classe do agronegócio nos Pampas. A leitura de Sementes de poder certamente será de grande proveito para quem anseia compreender e barrar o avanço dessa atividade sobre florestas e territórios tradicionais, processo que se mostra irrefreável apesar do rastro de desigualdades, morte e destruição que deixa em seu trajeto rumo à exportação.
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